Relativismo

Para aqueles que me conhecem pessoalmente, será fácil reconhecer a cena de uma Helena completamente transtornada de raiva por conta de preconceito aberto. Ao contrário do que muitos pensam, essas demonstrações grotescas de raiva não me agradam nem um pouco, pois elas ferem conceitos muito profundamente enraigados em mim; e um deles, depois de muito suar para fixar, é o de que raiva e desespero não levam a nada, mesmo quando nos vemos diante da ignorância completa. A raiva e o desespero nada mais fazem do que envenenar o sangue daquele que os sofre - logo, porque motivo devemos alimentá-los? A questão é que existem determinadas situações em que eu simplesmente não consigo me controlar, e é exatamente sobre situações sobre esta que hoje surgiu um tópico de conversa com uma amiga que eu acho digno de uma reflexão mais profunda. O grande problema do mundo de hoje é...? Creio que todos já paramos para pensar nesse assunto ao menos uma vez em momentos de ócio improdutivo, e todos nós chegamos a várias e várias conclusões diferentes sobre o assunto. A minha conclusão é a de que falta a nós a aplicação do relativismo tanto moral quanto cultural, político e sexual. Falta às pessoas a capacidade de entender - e de querer entender, para falar a verdade - o ponto de vista do próximo, seja ele muito distinto do seu ou até mesmo diferindo apenas em alguns determinados pontos. A definição de superioridade está muito profundamente fixada em nossos conceitos sociais, de modo que todos nós, sem exceção alguma, nos sentimos superiores a alguém por um ou outro motivo desprovido de razão. E esse sentimento de superioridade nos leva a humilhação alheia e ao descarte prematuro não apenas de novas idéias e pontos de vista, mas também de culturas diferentes e diferentes tipos de comportamento que, do ponto de vista do direito do indivíduo, não lesam o patrimônio físico do próximo. Para muitas pessoas, a melhor maneira de lidar com aquilo que considera-se impuro, indigno e inferior é o desprezo; atitudes violentas são esperadas de indivíduos isolados - que, infelizmente, algumas vezes, chegam à presidência de países com um grande arsenal bélico. Sinceramente, não consigo enxergar qual a pior atitude, e era sobre isso que eu conversava hoje com minha amiga - como algumas pessoas à nossa volta simplesmente ignoram o fato de a minha vida e a desta amiga específica ser vivida de maneira menos convencional... Falta ao homem a capacidade de enxergar novos pontos de vista; o mundo hoje é inteligente e globalizado, mas ainda somos constantemente bombardeados com informações de intolerância e preconceito. Como um mundo pode pregar tão incessantemente o relativismo moral se a grande maioria dos seus habitantes simplesmente não consegue aplicar o que diz? Não é porque você tem melhores escolas, melhor arsenal bélico, melhor economia, uma religião mais propagada pelo mundo, um carro zero km, uma calça de marca e sapatos comprados em Milão que você é melhor que eu; eu, que sofro em um ambiente de guerra civil, que tenho uma história conturbada, que apresento o maior nível de corrupção na maquinaria governamental, que não tenho dinheiro para pagar uma viagem, comprar roupas de marca ou fazer uma plástica. O amor que eu sinto por uma pessoa do mesmo sexo que eu é o mesmo amor, é o mesmo sentimento, é o mesmo tesão que você sente pela de sexo oposto. Não varia em absolutamente nada. Nós discutirmos e você não ter mais argumentos contra o meu Deus, simplesmente por eu me mostrar impassível a seus questionamentos, não é motivo para que você declare que o seu país está em guerra contra o meu e que você é melhor do que eu e que a sua religião é melhor do que a minha. Que meu Deus é situado em uma posição inferior à do seu Deus em uma hierarquia pré-histórica criada pelo próprio homem, que, sem nada para fazer e com apenas duas moedas de ouro a mais no bolso ou com menos melanina nas células epidérmicas, decidiu que era superior a outro ser humano exatamente igual a si. O relativismo não pode ser confundido com orgia intelectual e moral; ele deve ser encarado como uma forma de conseguirmos expandir os nossos próprios horizontes e vivermos de maneira melhor (conosco e com os próximos). Então, por isso, hoje eu falo: observe à sua volta, tente reparar mais nas pessoas, nas nossas diferenças e descubra como isso torna a sua vida mais interessante. Em um momento de raiva, não ofereça a outra face: saia correndo! Melhor um covarde com ideais ileso do que um brutamontes babaca cheio de escoriações faciais. Ame as pessoas à sua volta não pelo que elas te mostram, mas pelo que elas realmente são, sem tirar nem pôr; muitas vezes, elas ocultam aspectos íntimos de sua vida simplesmente para serem aceitos por você. Tamires, essa é pra você. Cheers!

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