terça-feira, 20 de julho de 2010

Pelo direito de viver a própria alma.

Em época de eleições, todo e qualquer assunto entra em pauta, mas as grandes questões sempre são evitadas - elas criam controvérsias demais para aqueles políticos que querem eleger-se, podendo prejudicar a sua (re)candidatura.
Muitos não acreditam na pauta, logo nem comentam sobre determinados assuntos.
Outros apóiam firmemente uma idéia, mas caso coloquem-se publicamente favoráveis, perdem a única chance que tem de representar, às vezes, a única voz que a idéia apresenta nos setores de poder (no senado, na câmara, no plenário).

Este não é um post partidário.
Este texto não é meu. Eu estou TRANSCREVENDO o livro "Los Angeles", de Marian Keys (mais precisamente, estou transcrevendo o que encontra entre as páginas 434-443).
Muitas pessoas, no calor do momento, não conseguem demonstrar bem as suas idéias.
Muitas pessoas não conseguem colocar em palavras o sofrimento, a dor, a dúvida.
Marian Keyes, mais uma vez, em uma história FICTÍCIA, me surpreendeu.
Quanto aos partidários de cada um dos lados, cada um tem o direito a sua opinião; a liberdade de expressão ainda faz parte da nossa constituição, e eu gostaria que cada um de vocês tivesse isso em mente ao ler isso.

"Eu não levo jeito para ser má. Sou péssima nisso, na verdade. A única vez em que eu tentei roubar uma coisa em uma loja, fui pega. Na única vez em que eu armei tudo para Shay entrar escondido quando trabalhei como baby-sitter, fui pega. No dia em que fiz gazeta na escola para ir ao torneio de sinuca com papai, fui pega. Na vez em que atirei o caracol no Nissan Micra cheio de freiras, o carro parou, todas saltaram e me deram o maior esporro. Era de imaginar que tudo aquilo me ensinaria a não sair da linha. Mas eu não aprendi, e na única vez em que fiz sexo sem camisinha com Shay Delaney, fiquei grávida.

Bem, talvez aquela não tenha sido a única vez em que não usamos proteção; do jeito como vivíamos transando às pressas e de forma estabanada, deslizes e respingos deviam ter acontecido com certa regularidade mesmo. Mas houve uma ocasião específica em que nós não tínhamos uma camisinha à mão e não conseguimos nos segurar. Shay prometeu que ia tirar a tempo, mas não fez isso, e de algum modo fui eu quem acabei consolando-o, garantindo que ficaríamos bem e não ia acontecer nada, como se o meu amor por ele fosse tão poderoso que conseguiria obrigar meu corpo a me obedecer.

Quando chegou o dia da minha menstruação e nada aconteceu, convenci a mim mesma de que o motivo era o estresse por causa dos estudos, pois estávamos a três meses das provas finais para eu completar o ensino médio. Em seguida, tentei convencer a mim mesma de que a minha menstruação não viria até eu parar de me preocupar com ela. Mas eu não conseguia afastar a encucação - a cada vinte minutos corria para o banheiro, a fim de verificar se ela tinha vindo, e analisava tudo o que me dava vontade de comer, para ver se podia ser classificado como 'desejo'. Mas que eu estivesse grávida era algo quase impensável.

Não consegui aguentar o sufoco de não ter certeza, precisava me certificar de que não estava grávida. Então, quando o atraso completou três semanas, fui até uma farmácia do centro da cidade e comprei - de forma anônima, eu esperava - um teste para gravidez, e quando a mãe de Shay saiu, fomos correndo fazer o teste no banheiro da família Delaney.

Ficamos de mãos dadas, os dois suando frio, observando o bastão com toda a atenção e torcendo para ele continuar branco, mas quando a pontinha foi ficando cor-de-rosa entrei em estado de choque. Aquele tipo de choque no qual as pessoas acabam tendo de ser internadas no hospital, tomando sedativos. Não conseguia falar nada, mal conseguia respirar, e, quando olhei para Shay, ele estava quase tão mal quanto eu . Parecíamos duas crianças assustadas. Minha testa ficou banhada de suor e eu comecei a enxergar uns pontos pretos meio borrados que atrapalhavam a minha visão.

- Eu aceito tudo o que você quiser fazer - disse Shay, meio sem expressão, e eu sabia que ele estava apenas representando um papel. Parecia petrificado, vendo a estrela brilhante que havia em seu futuro implodir. Ser pai aos dezoito anos? - Eu ficarei ao seu lado - disse ele, como se estivesse lendo um diálogo mal escrito.
- Acho que não posso ter esse bebê - ouvi a mim mesma dizer.
- Como assim? - ele tentava esconder o alívio, mas seu rosto já se transformara.
- É que... eu não tenho condições de tê-lo.

A única coisa em que eu conseguia pensar era que isso não acontecia a garotas como eu. Sabia que gravidez não planejada acontecia com montes de mulheres, é claro que eu sabia. Tinha certeza de que a maioria delas ficava arrasada e preferia que não tivesse acontecido. Mas senti - como talvez todo mundo sinta - que, de algum modo, comigo a situação era pior.

Desconfiava de que se alguém louca e irresponsável, como irmã mais velha, Claire, engravidasse aos dezessete anos, isso seria quase um fato já esperado e renderia apenas um suspiro e um balançar de cabeças no estilo 'Puxa, Claire...'.

Mas eu era a bem-comportada, o anjo da casa, o consolo dos meus pais, a única ilha para a qual eles podiam olhar sem precisar perguntar 'Onde foi que nós erramos?'. A idéia de ter de dar essa notícia à minha mãe era inimaginável. Quando pensei em contar isso ao meu pai, porém, estremeci por inteiro. Senti que isso poderia matá-lo.

Fui tomada de intenso pânico. Engravidar me pareceu uma das coisas mais assustadoras que poderiam acontecer a qualquer pessoa. Dentro dos limites do meu mundinho de classe média, então, não podia ser pior. Andei de um lado para outro com vontade de me lançar contra as paredes, como um animal enjaulado, sentindo-me despedaçada e cada vez mais presa da horrível percepção de que, não importa a decisão que eu tomasse, ela traria terríveis implicações que eu teria de suportar pelo resto da vida. Não havia saída, todas as opções eram pavorosas. Como eu poderia ter um filho e dar a criança para alguém? Ficaria arrasada só de imaginar o tempo todo como ele estava indo, se era feliz, se os pais adotivos tomavam conta dele direitinho e se a minha rejeição não o teria traumatizado. Mas morria de medo, também, de ter um bebê e mantê-lo. Como poderia cuidar dele? Era apenas uma estudante, sentia-me jovem demais e incapaz, imatura até para cuidar de mim mesma, quanto mais de um pedacinho de vida completamente indefeso. Como Shay, eu também achava que a minha vida ia acabar. Todos iam me julgar: os vizinhos, os colegas da escola, até meus parentes mais distantes. Falariam de mim com deboche, iriam rir da minha burrice e acabariam chegando à conclusão de que eu tivera o que merecia.

Quinze anos mais tarde, eu conseguia ver que nada daquilo teria sido um desastre tão absoluto. Tudo era superável. Eu poderia ter tido o bebê, cuidado dele, podia até mesmo ter construído uma carreira para mim mesma. É claro que meus pais não iam soltar fogos de alegria, mas acabariam por superar também. E o mais importante: iriam amá-lo, aquele que seria o seu primeiro neto. Na verdade, com o passar dos anos, vi pessoas passarem por coisas mito piores do que serem presenteadas com um bebê ilegítimo da filha bem-comportada. Keiron Boylan, um rapaz da nossa rua, pouco mais jovem do que eu, morreu em um acidente de moto quando tinha dezoito anos. Fui ao seu enterro e seus pais estavam irreconhecíveis. Seu pai estava, literalmente, transfigurado de dor.

Mas naquela época, aos dezessete anos, eu não sabia de nada disso. Não tinha experiência de vida, não conseguia enfrentar as pessoas nem ir contra as suas expectativas. Não tinha capacidade de ser racional e estava tomada de um medo extremo que me fazia acordar de hora em hora à noite e transformava os meus dias em pesadelos reais.

Sonhava com bebês. Em um dos sonhos, tentava segurar um bebê no colo, mas ele parecia feito de chumbo, muito pesado para carregar, embora eu tentasse mesmo assim. Em outro, eu tinha o bebê, mas sua cabeça era de adulto e ele ficava o tempo todo falando comigo, desafiando-me e deixando-me exausta com a força de sua personalidade. Vivia com náuseas, mas nunca tinha certeza se eram provocadas pela gravidez ou pelo terror constante que a acompanhava.

Shay repetia o tempo todo, feito papagaio, que me daria apoio, não importava o que eu decidisse fazer, mas eu sabia muito bem o que ele queria que eu fizesse. O problema é que ele nunca dizia de forma objetiva, e embora eu não conseguisse explicar o sentimento através de palavras, odiava sentar que eu, apenas eu, seria a responsável pela terrível decisão. Preferia que ele me falasse aos gritos que era melhor eu ir até a Inglaterra para resolver o assunto de vez, em vez de tê-lo em volta de mim, agindo de forma carinhosa e 'madura'. Embora ele parecesse um homem feito e fosse a figura masculina no lar dos Delaney, comecei a perceber que talvez ele não fosse tão maduro quanto aparentava e que tudo aquilo era encenação. E apesar de sermos inseparáveis, sentia-me estranhamente abandonada por ele.

Três dias depois do teste, contei tudo a Emily e Sinead(minhas melhores amigas), que ficaram absolutamente atônitas.
- Bem que eu desconfiei que havia algo errado com você - disse Emily, extremamente pálida - mas pensei que fosse preocupação por causa das provas.
As duas balançavam a cabeça o tempo todo, sussurrando 'Puxa vida' e 'Eu não consigo acreditar nisso', até eu ser obrigada a mandá-las fechar a matraca e me aconselhar algo útil. Nenhuma das duas tentou me convencer a ter o bebê; ambas achavam que não tê-lo era a melhor opção, ou pelo menos a menos ruim. Seus olhos demonstravam pena e também alívio por aquilo não ter acontecido com elas, e mais uma vez torci para que tudo fosse um pesadelo do qual eu iria acordar a qualquer momento, tremendo, mas feliz por ter sido apenas imaginação.

Por fim, elas decidiram que o melhor a fazer era contar tudo a Claire, que estava no último ano da faculdade, era uma grande defensora dos direitos das mulheres e reclamava sobre o quanto os padres eram descarados. Na verdade, ela costumava encher tanto os ouvidos das pessoas com aquela história de direito ao aborto que mamãe muitas vezes suspirava e dizia:
- Aquela ali é capaz de engravidar só para fazer um aborto e ter a chance de provar as suas idéias.
Então, eu contei a Claire o que acontecera e ela ficou perplexa. Sob outras circunstâncias, sua reação teria sido até hilária, mas naquele momento ninguém achou nada engraçado. Claire começou a chorar, de verdade, e, como era de esperar, fui eu que acabei confortando-a.
- Isso é muito triste - e continuava a chorar, inconsolável - você é tão novinha!

Por meio de uma assistente social, Claire conseguiu algumas informações para mim e para Shay, e, com uma facilidade inesperada, tudo foi acertado. Um peso imenso foi tirado dos meus ombros - afinal, não teria mais que ter o bebê e sofrer as consequências - , mas um monte de novas e terríveis preocupações afloraram à superfície. Eu fora criada como católica, mas de algum modo conseguira evitar muitas das cargas de medo e culpa que acompanhavam a doutrina. Sempre achei que Deus devia ser um cara muito tolerante, decente, a culpa de ter feito sexo com Shay até que não me martirizava tanto, pois eu raciocinava que Deus não nos teria dado apetite sexual se não quisesse que nós o usássemos. Já fazia muito tempo que eu não acreditava no inferno, mas de repente comecei a ter algumas dúvidas e reações que não reconheci como minhas.

- Será que vou fazer algo terrível? - perguntei a Claire, morrendo de medo da resposta - Será que sou.... uma assassina?
- Não - garantiu-me ela. - Isso ainda não é um bebê. É apenas um amontoado de células.
Agarrei-me àquela idéia com um certo desconforto, enquanto Shay e eu juntávamos dinheiro para o procedimento. Para mim, até que essa parte não foi difícil, pois eu sempre fiz poupança, e para ele também não foi difícil, por conta do seu charme irresistível. Então, em uma sexta-feira de abril, à tarde (meus pais com a idéia de que eu ia passar o fim de semana com Emily para estudar), Shay e eu fomos para Londres.

Passagens de avião estavam completamente fora do nosso orçamento, então fomos de barca. Foi uma longa jornada - quatro horas de viagem marítima, mais seis de ônibus - e eu me sentei com as cortas retas quase a viagem toda, convencida de que nunca mais conseguiria dormir. Em algum lugar perto de Birmingham, dei uma cochilada no ombro de Shay e só me lembro de acordar quando o ônibus já passava por um bairro cheio de prédios com revestimento de tijolinhos. Era primavera, as árvores estavam incrivelmente verdes e as tulipas já tinham florescido. Desde aquele dia, evito ir a Londres. Sempre que tenho que ir lá, revivo os sentimentos da primeira vez em que fui à cidade. Aqueles prédios com revestimento de tijolinhos existem em toda parte pela cidade: e eu sempre me pergunto: será que foram esses os prédios que eu vi?

Voltei à consciência como se estivesse nadando de volta à superfície e me ouvi chorar. Um som que eu nunca emitira antes vinha do fundo das minhas entranhas. Zonza e ainda meio anestesiada, fiquei deitada quietinha e ouvi meu som interior. Logo aquilo ia acabar parando.
E quando à dor? Havia dor? Prestei atenção e percebi que sim, sentia uma leve cólica, uma sensação de estar sendo esticada por dentro. Depois que acabasse de gemer, ia resolver o que fazer a respeito da dor. Ou talvez alguém resolvesse. Naquele hospital que não era um hospital, provavelmente uma enfermeira que não era enfermeira iria me ouvir e viria me acudir.
Mas ninguém apareceu. Quase sonhado, como se outra pessoa estivesse emitindo aqueles sons, fiquei deitada quietinha, ouvindo. Devo ter voltado a dormir e, quando tornei a acordar, estava em silêncio. Por incrível que pareça, me senti quase bem.

No sábado de tardinha, quando Shay me pegou e levou para o motel onde íamos passar a noite, ele estava imensamente carinhoso. Eu me sentia aliviada, embora ainda chorasse - o interessante é que só depois de tudo estar terminado e seguro é que eu me permiti chorar por causa do bebê. Por alguma razão, eu decidira que o bebê era um menino, e quando me perguntava em voz alta se ele teria sido parecido comigo ou com ele, Shay se mostrava muito desconfortável.

Partimos para a Irlanda no domingo de manhã e chegamos lá ao entardecer. Era inacreditável que menos de dois dias tivessem se passado desde que eu saíra dali e estava de volta ao meu quarto onde tudo parecia, de forma decepcionante e quase vergonhosa, normal. Minha escrivaninha estava entulhada de livros escolares que exigiam a minha imediata atenção. Aquele era o meu futuro, ele jamais saíra dali, tudo o que eu tinha a fazer era reembarcar nele. De imediato, na verdade naquela mesma noite, eu caí dentro e me lancei aos estudos, pois faltavam apenas seis semanas até as provas finais. Só que, nos dias que se seguiram, coisas estranhas começaram a acontecer. Eu ouvia bebês chorando em toda parte - até quando estava debaixo do chuveiro ou dentro do ônibus -, e quando a torneira era fechada ou o ônibus parava, o choramingo longínquo também.

Tentei contar isso a Shay, mas ele não queria saber dos detalhes.
- Esqueça isso - ele aconselhou. - Você se sente culpada, mas não deixe isso derrubá-la. Pense apenas nas provas, faltam só algumas semanas.
Então eu engoli a necessidade que tinha de falar do assunto, de tentar me convencer de que fizera a coisa certa, e em vez disso me forcei a encarar tantas horas de estudo quanto conseguisse; sempre que a urgência de falar sobre o nosso bebê se tornava insuportável, eu perguntava a Shay alguma coisa sobre Hamlet ou os primeiros poemas de Yeats, e ele me explicava tudo com a maior boa vontade, quase repetindo de cor a matéria dos livros.

Superei o período de animação suspensa típico da época dos exames e, de repente, estava livre. Acabara o ensino médio, era adulta e a minha vida estava pronta para começar. Enquanto aguardávamos as notas finais, Shay e eu ficávamos quase sempre juntos. Assistíamos a um monte de programas de TV, e até mesmo nos dias mais quentes e convidativos, quando o sol forte fazia o sofá estofado em veludo cotelê o tapete marrom parecerem ridículos, não saíamos de casa e ficávamos vendo TV.

Nunca mais transamos.

No meio do verão, saíram os resultados das provas finais. Shay teve notas altíssimas eu quase levei bomba. Na verdade, o meu desastre não foi assim tão dramático, mas é que eu queimara tanto as pestanas no fim do semestre que as expectativas de todo mundo com as minhas notas tinham sido muito elevadas. Meus pais ficaram confusos, mas na mesma hora decidiram que o motivo de meu fracasso era algo sem importância. Como poderiam imaginar que eu passara as últimas seis semanas antes dos exames sentada no meu quarto ouvindo choros de bebês imaginários por trás de alarmes de buzinas de carros?

As consequências do trauma se alongaram por muito tempo. Quase que a partir do exato momento em que eu já não estava mais grávida, culpa e remorso chegaram e comecei a achar que ter tido o bebê não teria sido tão ruim. (Embora eu tivesse uma leve noção de que, se ainda estivesse grávida, estaria desejando não estar.)

As contradições me puxavam para os dois lados, como em um cabo-de-guerra emocional. Eu sentia que tinha todo o direito de fazer um aborto, mas continuava incomodada por uma terrível sensação de desconforto. Não importava o quanto a minha vida fosse sensata e limpa a partir dali, sabia que até eu morrer eu arrastaria aquele peso. Não conseguiria encontrar a descrição exata para aquilo: 'pecado'. Era a palavra errada, porque pecar era violar as leis de outra pessoa. Uma parte de mim, porém, estaria sempre despedaçada e eu ficaria marcada para sempre como uma mulher que fez um aborto.

Sentia-me tão marcada nessa irreversibilidade que pensei em me matar. Ainda bem que foi só por alguns segundos, mas por aquele curto período de tempo eu sinceramente quis morrer. Era como estar algemada a algo vergonhoso e doloroso para sempre. Diferente de perder pontos na carteira de motorista ou ser fichado na polícia por uma contravenção que caducava em cinco ou dez anos. Aquilo nunca teria conserto, porque era impossível de ser consertado.
E no entanto.... eu também me sentia aliviada por não ter uma criança para criar. O que eu queria mesmo era não ter sido obrigada a tomar a decisão, para começo de conversa. E é claro que tudo aquilo era culpa minha, pois eu devia ter mantido as pernas fechadas, mas a vida não era assim - até eu sabia disso -e era fácil ser sábia depois do fato consumado.

De vez em quando, as organizações antiaborto desfilavam pelas ruas de Dublin, fazendo campanhas para tornar o aborto na Irlanda mais ilegal do que ele já era, carregando rosários e empunhando cartazes com fotos de fetos arrancados do útero.
Eu tinha de desviar os olhos daquilo.
Quando os ouvia condenando o aborto com tamanha veemência, tinha vontade de perguntar se algum deles já havia estado na minha situação.
Aposto que não.
Se tivessem estado, o seu compromisso com os elevados princípios morais ficaria abalado.

O que mais me incomodava eram os homens - homens protestando contra o aborto! HOMENS! O que eles sabiam, o que poderiam saber do terror que eu sentira? Eles não podiam engravidar. Mas nunca comentei nada disso em casa, porque não queria chamar atenção para o problema. E - pelo menos quando eu estava por perto - Claire também nunca comentou nada.  "




Todos nós temos direito a tomar as nossas próprias decisões.
Só que toda e qualquer decisão que nós venhamos a tomar vem acompanhada de consequências, sejam elas quais forem.
O direito de escolha - e da consequência - é nosso.

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