quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vem a bomba, cai em cima de você; você olha para os lados e se dá conta "caralho, é comigo mesmo." Direita? Nada. Esquerda? Só uma pessoa te olhando pasma. Na frente está o autor da bomba. Atrás... ninguém lembra de olhar, mas digamos que não há nada. E as bombas vem, e, muita gente assim como eu entende o termo "pára-raio de problemas". E é tanto problema que a gente fica sufocado, parece que você está dentro de uma grande redoma de vidro e que a água está entrando por baixo... e todo mundo está te olhando, você está em cima de um palco. As luzes se acendem, todo mundo te vê melhor, a água entrando, você pensando "o que diabos eu to fazendo aqui?". E pensa nos dias em que a vida foi mais fácil, em que as preocupações eram menores; pensa na infância e nos dias em que o maior problema era chegar na aula e levar anotação da professora. E a água vai subindo e já está quase no seu joelho; você olha pra frente e tem um infeliz com cabelo estranho que só falta rir da sua cara de espanto. Olha pra cima e vê que não, não há como sair. "Como eu entrei aqui mesmo?" você pensa; e se dá conta de que não tem a mínima idéia, só sabe que está lá. Só sabe que tudo que tem acontecido te levou a esse exato momento e que não adianta, não há escapatória: a água vai subir, os problemas vão continuar, não importa o que você faça. E a água continua subindo, você já sente o gelado na cintura. "Ai que saudades que eu tenho da minha infância querida, da aurora da minha vida, que os anos não trazem mais..." E mais bomba em cima de você, parece que o nível da água sobe cada vez mais. E você pensa em tudo que se deve fazer e tudo que esperam de você. Todas aquelas palavras que, um dia, deveriam ter sido de estímulo, mas que hoje você enxerga como pura cobrança e se dá conta de que SIM, eram pura cobrança - mas na época você nem se deu conta. As luzes do palco se apagam e as da platéia se acendem; todo mundo está ali, todo mundo te olha e ninguém faz nada. Todos os seus conhecidos, todos os desconhecidos, todos aqueles que você não queria ver nunca mais na vida, todos aqueles a quem você dedicou o resto dos seus dias. Alguns tentam subir pra ajudar, mas algo impede; e a água sobe e já está nos seus ombros. E é casa, família, filhos, bichos, política, sociedade, vida; todo mundo quer tudo de tudo, desde que esse tudo vire-se para si... então você não pode ter o que quer, pq tem que pensar nos outros, mas ninguém faz nada pensando em ninguém a não ser em si mesmo; aí você se dá conta de que muito provavelmente você é uma das pessoas que conhece que realmente tenta fazer as coisas diferente e se cansou disso. Cansou de patada, cansou de problemas, preocupações, crises. Você se cansou da cobrança de ser a melhor pessoa do mundo no meio de todo um resto que faz questão de mostrar que importa-se apenas com o próprio umbigo. A luz do palco acende e a água está no seu pescoço. A redoma está quase cheia e você pensa que não há mais nada que você consiga realmente suportar, pq é coisa demais para uma pessoa só; mas os problemas continuam vindo, e a infância volta. A infância volta com os sorvetes, a casa da vó. O lanche na casa dos amigos, as férias na praia. A primeira vez na neve, a primeira vez que dirigiu um carro, a sensação de se apaixonar pela primeira vez. O primeiro "10" na escola - que você realmente estudou por. E você se lembra do tempo em que seu esforço era recompensado e que você até conseguia se sentir bem consigo mesmo - e se lembra que, mesmo lá, já tinha muita gente dedicando grandes feitos a você; caso você não os concretize, não adianta... vc é um fracasso. Sua vida está fadada ao fracasso. Se você não segue as regras, vc é um perdedor, um pária, um estranho, um anormal. Se você não faz tudo que todo mundo faz, os problemas se multiplicam. Se você não consegue resolver todos os seus problemas, você é um fraco perante um mundo cruel. O mundo, sim, o mundo é cruel - a platéia grita -, mas você TEM de se dar bem. Você não respira mais, não há mais ar, não há mais espaço para tantos pensamentos. E a sua vida, para onde foi?

1 comentários:

Ana Arcanjo disse...

ca.ra.lho.
foda...

9 de dezembro de 2009 às 17:31

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